25 de agosto de 2004
Caros amigos latino americanos,
Pelo visto tem havido um pouco de confusão quanto a nomes vulgares de pasto e suas espécies, familias e ordens e principalmente, cultivares ou ecótipos...
Pois bem, PENNISETUM PURPUREUM schum. é o nome cientíco de todos os pastos elefantes: maralfalfa/king grass/gramafante, cameroon, napier, mercker, taiwan 146, 148, wruckrona, elefante do panamá, mineirão, roxo, elefante anão/mott, etc, etc, etc...
Uma de suas caracteristicas básicas, é como são plantas triplóides 3n, todos se reproduzem vegetativamente através de estacas ou colmos/talos inteiros, como a cana de açucar. Na verdade há uma exceção, que é uma cultivar híbrida entre pennisetum purpureum X pennisetum glaucum (milheto), que foi lançada pela empresa brasileira Matsuda (cv. Paraíso), e que se reproduz por sementes verdadeiras (muito pequenas e com uma "pluma") exatamente igual à sementes de todas as cultivares de pasto elefante, só que viáveis e férteis. A propósito, esta hibridação vem sendo pesquisada por várias instituições agronômicas sérias no mundo todo, porque é uma maneira de baratear a implantação de um pasto elefante (sementes viáveis) e aumentar seu valor protéico. - a cv. Paraíso da Matsuda por exemplo, não é tão palatável para o gado como outras cvs. de pasto elefante; isso porque tenho a mesma implantada em minha propriedade juntamente com a cv. mineirão (muito produtiva e palatável).
Os pastos elefantes são divididos em dois grandes grupos, que levam os nomes de cvs. mais conhecidas destes grupos, pelo menos aqui no Brasil: o grupo dos napiers, que se caracterizam por colmos/talos mais finos, folhas mais finas e proporção de folhas maior que a de colmos. E o grupo dos cameroons, com cvs. de talos mais grossos, folhas largas e proporção folha/colmo igual a mais ou menos 1. Claro que há as subdivisões em questão ao florescimento abundante, pequeno ou praticamente inexistente (preferível), apresentar ou não pilosidade nas folhas e colmos, porte, etc.
Esta variedade enorme de cvs. faz com que até mesmo técnicos experiêntes tenham dificuldade (quando não é impossível) de distinguir entre cvs. de um mesmo grupo. E as cvs. tem comportamentos produtivos diferentes em solos, climas e manejos diferentes. Às vezes, uma cultivar é muito produtiva em uma região ou altitude e perde muito para outra em outra região ou altitude. Aqui no Brasil, por exemplo, a cv. cameroon apesar de ser de introdução relativamente recente ( meados dos anos 80 ), caiu no gosto dos produtores (daí seu nome ser até utilizado para representar um grupo de cvs. e até mesmo como sinônimo de pasto elefante), porém se enquadra em uma das cvs. menos produtivas e nutritivas em praticamente todas as regiões do Brasil.
Há alguns anos, visando intensificar a produção de leite à pasto, com altas produções por hectare, se implantou sistemas de pastejo direto em pasto elefante, que proporciona altíssimas produções de materia seca com um valor protéico satisfatório para produções da ordem de 10 a 13 kg de leite por animal (F1 zebú leiteiro X holandes, pardo suiço, gersey) só com mineral e sem suplementação protéico/energética, e com lotações de até 10 animais por hectare.
O problema, é que a implantação de tal sistema é cara, já que deve ser feito por sementes vegetativas (estacas/mudas), os pastos elefantes são extremamentes exigentes em solo, logo demandam correções e altas adubações, a quase totalidade das cvs. é sensível ao salivaso, seu manejo não é tão simples, já que sob pastejo deve haver um resíduo pós pastejo da ordem de 40 a 50% da forragem, o que quer dizer uma altura entre 35 a 60 cm do solo, dependendo da cv. Outro grande problema é sua estacionalidade produtiva, já que concentra entre 80 a 85% de sua produção no período úmido (primavera/verão) e o restante no outono/inverno (isso pode ser minimizado quando se está mais próximo à linha do equador, devido ao fotoperíodo, porém a altitude não pode ser muito elevada, já que os pastos elefante paralisam seu crescimento quando a temperatura cai abaixo de 15 graus centigrados). Para pastejo o intervalo de descanso varia de 35 a 45 dias.
Como alternativa, este sistema pode utilizar um pannicum maximum da cv. tanzânia 1, ou até mesmo o mombaça (mas este apesar de um pouco mais produtivo não é tão indicado para gado de leite). Sua implantação é mais barata, sua produção não é tão alta, mas para compensar, seu teor de proteína é um pouco mais alto (aos 30 a 35 dias), digestibilidade na ordem de 60 a 63%, palatabilidade extremamente alta. Por outro lado é tão exigente quanto o pasto elefante em fertilidade de solo e adubação, também apresenta uma estacionalidade de produção (menor que a do pasto elefante é verdade), é um dos pastos mais resistentes ao salivaso e seu manejo é um pouco mais fácil.
A EMBRAPA GADO DE LEITE desenvolveu uma cv. de pasto elefante especificamente para pastejo direto, chamada Pioneiro, que tem apresentado um resultado muito bom. - inclusive é utilizada na faculdade de agronomia de minha cidade para vacas leiteiras e realmente tanto os resultados quanto o pasto impressionam! -
Mas lembrem-se, não existe o pasto "ideal", o que há é o pasto mais indicado para uma condição de clima/solo/umidade, nível tecnológico de manejo e exploração e categoria animal a que se destina.
Cordialmente,
Helio Cabral Jr