25 de agosto de 2004
Caros amigos latino americanos,
Sou um micro produtor brasileiro, e fui talvez um dos primeiros em meu pais a plantar, em carater experimental, a brachiaria híbrida cultivar mulato; eis minhas impressões:
realmente é mais resistente ao déficit hídrico que a B. brizantha cv. marandú, e praticamente igual à cultivar MG-5 (pasto toledo), produzindo mais materia seca que a cv. marandú e quase a mesma coisa que o pasto toledo. Quanto á palatabilidade é superior à toledo e inferior à marandú. Sua indicação é para uso rotacionado, como as outras duas e como a marandú é indicada para o gado de leite (a toledo é mais indicada ao gado de corte). Apesar de ser uma planta extremamente vigorosa, se rebaixada com frequencia abaixo de 10 cm, chega a perecer (todas estas brachiárias a recomendação de manejo é de pelo menos 25 cm de resíduo pós pastejo). É mais ou menos resistente á cigarrinha (salivaso), mas não tem a resistencia do tipo abiotica da cv. marandú que não permite o desenvolvimento e sobrevivencia do salivaso!
Estas são as vantagens, porém há duas grandes desvantagens:
primeiramente o custo da semente, que é mais de quatro vezes o custo das outras duas. A segunda, é que como é uma progênie híbrida da cv. marandú X cv. ruziziense (não comercial), uma de suas caracteristicas, é que mesmo bem manejada, produz muito material morto (folhas e talos) na touceira, muito semelhante à cv. decumbens (pasto señal?); só que a decumbens pode ser manejada mais baixo para diminuir este problema, a mulato não, e então pode haver uma proliferação do fungo Phitomyces chartarum, que provoca fotosensibilização nos animais.
É um pasto exigente em fertilidade de solo, mas como toda brachiaria, não é tão nutritiva nem tão digestível quanto os panicums tanzania e mombaça.
Inclusive caso o produtor já tenha um outro tipo de pasto na propriedade (brachiária, paspalum, andropogon, setária, etc, etc, etc.) é recomendável, até por diversificação, se for realisar o plantio em um solo corrigido e adubado, que o faça utilizando uma das forrageiras tropicais mais produtivas, nutritivas e resistente à pragas: panicum maximum cv. tanzânia! O mombaça também é muito bom, mas por suas caracteristicas de vigor e por "passar" mais rápido (decair a palatabilidade e aumentar a quantidade de lignina e fibra diminuindo o valor nutritivo), é mais indicado para gado de corte, mas se manejado com mais cuidado e mais intensivamente, também pode ser utilisado por vacas de leite. Mas não se enganem, o tanzânia é excelente, porém é extremamente exigente em fertilidade de solo, e para se manter produtivo requer adubações anuais ou preferencialmente após cada ciclo de pastejo (da ordem de 200 a 300 kg/ha/ano de N e K, e mais um percentual de P e demais nutrientes). Há uma pequena brincadeira que costumo fazer, para mostrar como um bom pasto pode dar pessímos resultados: o produtor rural escolhe o pasto tanzânia, prepara a terra como se fosse plantar marandú, planta como se fosse decumbens e maneja como de fosse humidícula... depois, quando o pasto não produz o que ele esperava, diz que o pasto é ruím!
Espero ter dado alguma contribuição.
Cordialmente,
Helio Cabral Jr